No dia 22 de setembro, a Capital do Chimarrão foi palco da Festa da Colheita da Erva-Mate, evento que faz parte do calendário oficial do estado desde 2020 e onde a poda simbólica de uma Erveira marcou a abertura da safra 2022 no Rio Grande do Sul.
O evento foi organizado pelo Instituto Brasileiro da Erva-Mate – IBRAMATE e pela Prefeitura de Venâncio Aires, com apoio da Emater-RS/Ascar, da Câmara Setorial e Temática da Erva-Mate da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural – SEAPDR e de entidades representativas dos polos produtivos.
O local escolhido para a festividade, por sua tradição no cultivo da erva-mate, foi a propriedade da família Wagner e Becker, na localidade de Vila Santa Emília, em Venâncio Aires, município que integra o Polo Ervateiro Região dos Vales, um dos cinco maiores produtores de erva-mate no Rio Grande do Sul. Egídio José Wagner, 69 anos, que administra a própria lavoura desde os 14 anos e tem no cultivo de erva-mate uma herança de família. A esposa Cleria Becker, 64 anos, também vem de uma família produtora de erva-mate, cultura que seguiu com o marido, com quem é casada há 45 anos.
Por ordem das falas oficiais, destacamos a do Presidente Estadual da Emater-RS Ascar, Alex Corrêa, entidade que ao longo do evento também fez demonstração de técnicas de adubação de solo e cultivo dos ervais.
Corrêa defendeu a importância das políticas públicas do Estado no desenvolvimento técnico da cadeia produtiva e que em Venâncio Aires tem por resultado a produção de mudas de qualidade, a concessão de crédito e incentivo econômico nestas propriedades. “Neste último ano foram desenvolvidos cerca de 500 projetos para a agricultura familiar. Foram cerca de 15 milhões em recursos financeiros oxigenando a economia local”.
O presidente da Associação dos Produtores de Erva-Mate do Polo dos Vales – ASPEMVA e novo vice-presidente eleito do IBRAMATE, Cleomar Henrique Konzen, por sua vez, reforçou a importância das ações institucionais, técnicas e das indústrias e das políticas públicas no incremento de toda a cadeia produtiva para a plena aceitação dos produtos pelo consumidor: ”O momento é oportuno pois estamos colhendo os resultados de um trabalho feito com carinho e dedicação. Quero agradecer especialmente aos produtores de erva-mate que resistiram ao avanço e substituição dessa cultura por outras, permancendo nessa atividade, inovando sempre e buscando a excelência”.
Ressaltando a união e profissionalização da cadeia produtiva e a importância do incentivo público, Alberto Tomelero, presidente reeleito do IBRAMATE, agradeceu a presença de todos os presentes, autoridades e convidados em geral, na Capital Nacional do Chimarrão e o apoio na realização do evento.
Tomelero traçou um rápido panorama do setor, que no RS engloba cerca de 14 mil famílias, a grande maioria de pequenas propriedades, que sempre tiveram na erva-mate uma alternativa econômica, consorciada com outras culturas, diversificando a produção agrofamiliar: “Produtores que buscam constantemente a melhora da qualidade de seu produto e querem e necessitam de valorização na hora da venda”. Neste sentido também pontuou a atuação do IBRAMATE no atual cenário, que apesar da estiagem nos últimos três anos, e considerando também os ervais implantados entre 2013/2014 e que agora começam a produzir a pleno, é esperada uma produção em torno de 320 mil toneladas de erva-mate no Rio Grande do Sul neste ano. “Nossa preocupação maior em termos institucionais e de cadeia produtiva, é buscar por novos mercados e alternativas de consumo”.
Finalizando a sua fala, Tomelero fez, ainda, a entrega de um presente simbólico a algumas das personalidades e autoridades presentes: uma cerâmica decorada com folhas de erva-mate, produzida artesanalmente pela artista plástica Marcia Tomasini, de Ilópolis.
Na sequência, Tiago Fick, Coordenador da Câmara Setorial e Temática da Erva-Mate da SEAPDR destacou a importância da visibilidade e do pensamento de desenvolvimento coletivo para toda a cadeia. “Estamos hoje enaltecendo a etapa que inicia todo o processo da cadeia produtiva. É na propriedade, na colheita que se inicia todo o processo da erva-mate até ela chegar a nossa cuia e hoje, também, a tantos outros produtos em que é matéria-prima”. E finalizou: “Sem produção não há venda e vice-versa. É com a união do setor que ele se manterá fortalecido”.
Representando o Governador do Estado, Ranolfo Vieira Júnior, a Secretária da Cultura Beatriz Araujo, agradeceu a acolhida, lembrando que já participou da Festa da Colheita em Ilópolis, em 2021 e reiterou o cuidado e o compromisso do Estado com a cultura da erva-mate, por meio do reconhecimento da cadeia produtiva da erva mate como primeiro registro do Patrimônio Imaterial do Rio Grande do Sul: “Cultura que traz luz ao estado do Rio Grande do Sul em termos de Brasil e exterior. Reconhecimento a todo cidadão que preserva o modo de cultivar a erva-mate. Que possamos seguir celebrando esta cultura”.
A Secretária cumprimentou, também, o IBRAMATE pela persistência e garra em realizar o evento e dar visibilidade ao setor. Trabalho que a entidade se orgulha de vir realizando em conjunto com a Secretaria da Cultura e com o IPHAE neste processo de reconhecimento da erva-mate – símbolo da cultura gaúcha –, como Patrimônio Imaterial do RS.
O prefeito Jarbas da Rosa iniciou a sua fala saudando os presentes e valorizou a realização do evento no polo ervateiro Região dos Vales, e a história de Venâncio como Capital Nacional do Chimarrão e a recente realização da Festa Nacional do Chimarrão. Considerou, também, a importância econômica das pequenas propriedades em nível nacional, e de uma cultura como a da erva-mate, com mais de 100 anos de cultivo em Venâncio Aires, e que hoje engloba 425 famílias. Cultura que, por suas características produtivas, por sua resistência, representa uma garantia financeira e na sucessão rural dos pequenos municípios.
Jarbas também deu relevo as múltiplas qualidades da planta e a responsabilidade das administrações públicas no desenvolvimento de todas as suas potencialidades econômicas: “O símbolo maior do Rio Grande do Sul é o Chimarrão. Nós temos um produto que é fundamental do ponto de vista econômico, cultural, turístico, gastronômico e medicinal. Investir na cultura da erva-mate é investir no futuro de Venâncio Aires e de todo o Rio Grande do Sul”. E complementou: “Tenho certeza que com o Centro Vocacional Tecnológico Erva-Mate, em Ilópolis, vamos poder trabalhar no melhoramento genético, na qualificação de mudas e no desenvolvimento de novos produtos”.
O evento seguiu, após a benção do Padre Claudio, para o seu ponto alto, a poda simbólica e oficial de uma Erveira, com utilização de um tesourão, sob as orientações técnicas de manejo da Emater-RS Ascar. E encerrando a festividade, o público pode prestigiar a Escola de Samba Academia de Samba Puro, de Porto Alegre, que irá levar o tema da erva-mate para a avenida, no Carnaval 2023. Os presentes também puderam apreciar uma saborosa gastronomia à base de erva-mate, acompanhada do tradicional chimarrão.
Também marcaram presença no evento, autoridades municipais, integrantes dos cinco polos e de entidades do setor ervateiro, produtores e representantes de indústrias, do Sebrae, Escola do Chimarrão e das Universidades de Santa Cruz do Sul (Unisc), do Vale do Taquari (Univates) e Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), bem como o deputado Elton Weber, autor da lei 81/2017, que criou a Festa da Colheita da Erva-Mate, sancionada em 2019.
A Colheita da Erva-Mate, que ocorre anualmente de forma itinerante entre os polos regionais tem sua próxima edição em 2023, em Novo Barreiro, no polo Celeiro/Missões, seguido de Erechim em 2024 e Machadinho em 2025.
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Poda de erveira marcou a abertura da Festa da Colheita da Erva-Mate – Foto: Débora Kist/Folha do Mate
A erva-mate será tema da Escola Academia de Samba Puro, de Porto Alegre, em 2023 – Foto: Tiago Fick/Seapdr